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Quino dá adeus, mas lição de Mafalda fica

A nossa esperança é que as críticas e utopias da pequena rebelde se faça sempre presente


Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, foi um cartunista e humorista argentino, autor das famosas tiras da personagem Mafalda, uma menina inteligente e contestadora que ganhou grande repercussão no cenário mundial. O desenhista argentino tinha um olhar crítico e politizado de uma sociedade que não mudou. O sonho utópico de uma criança.

Quino nasceu em 17 de julho de 1932 e faleceu em 30 de setembro passado (2020), aos 88 anos. Um dia após sua principal personagem completar 56 anos.

A emblemática e, talvez, principal personagem do argentino, Mafalda, foi desenvolvida para uma peça publicitária para divulgar os eletrodomésticos Mansfield. Mas a campanha nunca saiu e Mafalda, ficou guardada até convite para a publicação no Primeira Plana, jornal em papel argentino. Foi a primeira aparição da pequena que habita em nosso consciente.

Quem é Mafalda?

Quino afirmara diversas vezes que havia decidido por uma protagonista que deveria ser mulher, devido à influência do movimento de emancipação feminina dos anos 60 e porque, segundo ele, “as mulheres são mais espertas”. Assim nasceu Mafalda, rebelde, jovem e ansiosa por um mundo melhor.

A garota discutia em suas tirinhas ideias progressistas, por isso nunca desceu bem para alguns setores da sociedade. Na Espanha, a censura da ditadura franquista (que durou de 1936 a 1975) obrigou editores a colocarem um aviso na capa dos livros, no qual dizia que se tratava de obra “Para Adultos”.

Mafalda também encontrou barreiras durante governos autoritários do Brasil, Chile e Bolívia. “Eles me disseram: ‘Rapaz, piadas contra a família não, militares não, nudez não. Eu nasci e cresci com autocensura”, disse Quino. Ele já havia afirmado que Mafalda sempre existiu no seu imaginário e que imaginava que passaria por uma forte censura.

O autor português António Cluny, escreveu: “Não foi a morte de Quino que calou a Mafalda”. Para Cluny, Mafalda já havia se calado, pois o próprio Quino desacreditou do mundo. O português esperava a fase adulta de Mafalda, onde ela daria as respostas para questões impertinentes que a incomodavam.

Acredito que Mafalda ainda dialoga com aqueles que ainda a tem em seu imaginário, embora cada vez mais polarizados. Talvez não fale a quem deveria falar. Mas devemos persistir no sonho da pequena. A personagem que sofria da falta das esperanças que coletivamente existe numa vida melhor, deve permanecer viva em nós e, cabe a cada um de nós trazer a nossa Mafalda sempre que precisarmos.

Diogo Martins

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