Dona Idalina foi a primeira vendedora de hot dog em Holambra e hoje comanda um dos novos containers de alimentação
Hoje não é difícil encontrar um cachorro quente em Holambra. A cidade se desenvolveu e a comercialização do famoso lanche com salsicha se transformou em algo comum, assim como em quase todo canto do país.
No entanto, nos primeiros anos do município, Idalina Seguessi foi uma das primeiras pessoas a ter a ideia de trazer o hot dog para cá. Motivada em vender cachorro-quente na cidade, Idalina se juntou à irmã em 1995 e buscou autorização na Prefeitura. Com a inscrição aprovada, contou com ajuda do marido, João, e trouxe o carrinho de cor branca para Holambra. Daí começou uma história que se estende até os dias atuais.
Quando se fala em comer um lanche na cidade, muitos se lembram dos “vozinhos”. O casal trabalha unido em um dos novos containers de alimentação, mas essa parte fica mais para frente.
O início
Os primeiros “dogs” de Dona Idalina foram comercializados na esquina da Escola Estadual Ibrantina Cardona, no Centro. “Naquela época não tinha nenhum lanche, nem lanchonete. Só padaria. Foi difícil no começo, porque quase não havia movimento, a rua não era asfaltada e era um sofrimento só quando dava um temporal. O guarda-chuva que a gente usava saia voando. Corria muita enxurrada”, recorda.
Ela veio para Holambra com apenas 12 anos e já naquela época trabalhava com a mãe - que, segundo a própria filha, decidia se mudar de tempos em tempos de cidade a cidade. “Eu voltava da escola e ia trabalhar com a minha mãe na roça. Depois, um pouco maior, com 14 anos, comecei a prestar serviço como doméstica na casa dos holandeses, sozinha. Não era difícil, até porque esse não foi o primeiro emprego (já estava na luta desde os oito anos)”, disse. Não demorou para que conhecesse o marido e acabaram rumando a São Paulo logo depois do casamento.
“Fui sacoleira e conheci muitos lugares, mas em nenhum me senti tão bem quanto em Holambra. Já tinha proposto em meu coração que gostaria de voltar, aí o João decidiu comprar um terreno aqui por minha causa”.
E ela não perdeu tempo. Antes de a casa em Holambra ficar pronta, se acomodava na residência da irmã e tirava seu dinheirinho com o cachorro-quente. “Entre 95 e 97, deixava mais na responsabilidade da minha irmã porque não estava direto aqui. Ela foi tocando devagar, de acordo com a possibilidade dela, e depois assumi. Aprendemos a fazer o lanche comendo o de outra pessoa e fazíamos igual no início, mas depois modificamos bastante. Fomos aprimorando, hoje penso que é preciso ter capricho”, garante a senhora.
Aposentada já na época, Dona Idalina foi se animando mais com o aumento do movimento, natural com a formação de clientes fiéis e o crescimento da cidade - até pela quantidade de pessoas que pegavam ônibus e desciam próximas ao carrinho. “Era um sacrifício porque a gente levava e trazia a chapa todo dia para limpar. Mas, o dinheiro ajudava muito, conseguia comprar meus medicamentos”, lembra a comerciante.
Companheirismo
Com o passar dos anos, a Prefeitura “dividiu” as irmãs e cada uma ficou com sua licença. Sozinha, Idalina recorreu ao marido, que abraçou o chamado. “Entrei para ajudar porque a Idalina estava com problema de saúde também, entrei para dar uma força. Não sabia nada, fui aprendendo. A chapa foi complicada porque gruda muito se você não conhece, fica perdido. Mas peguei rápido, me acostumei”, comentou seu João, responsável por fazer um dos mais procurados X-Bacon de Holambra.
Em 2012, a nova dupla se mudou para a Praça dos Pioneiros. A estadia por lá foi passageira, apenas tornou ambos mais conhecidos entre os fregueses.
Container e amizade
Quando questionada se pensou em desistir em algum momento, Dona Idalina não hesitou em responder. “Nunca. Isso não aconteceu em nenhum momento porque sempre gostei do trabalho. Além de ser distração para a cabeça da gente, gosto de lidar com as pessoas, fazer amizades. E cada vez fui gostando de caprichar no lanche para agradar as pessoas e ser agradada”, conta a senhora de 76 anos, com típica aparência de vozinha.
“Vimos crianças crescendo. Esses dias vi uma menina que cumprimentei e nem lembrei dela, deve ser da época do Ibrantina”, imagina seu João. “Ele (João) trabalha mais por causa disso, porque gosta de conversar com as pessoas”, continua a esposa. Para Dona Idalina, a realização de um sonho veio com a compra e instalação de um dos novos containers - que ficam ao lado da rua da Amizade.
“Precisei fazer economia para dar entrada nele e ainda não terminou (falta à cobertura definitiva), mas foi um sonho que se realizou. É bem mais prático, higiênico, não é uma barraca mas uma mini lanchonete, a gente se sente confortável de trabalhar lá. É mais fácil. Nunca pensei que chegaria nesse nível”, conta a senhora, sem conter a felicidade pela conquista.
O negócio que começou com ela e a irmã, agora está com ela e o marido e se prepara para o próximo passo. A neta assumirá o container em breve. Nota: atualmente, a irmã de Idalina é vizinha em outro container. Tudo em família.
“Não pretendo ficar por muito tempo mais por causa da saúde, idade. A gente está querendo deixar completinho para minha neta, com cobertura, tanto que vamos para São Paulo algumas vezes e deixamos ela tomando conta para ir se adaptando. Ela se formou em gastronomia”, diz Dona Idalina, que volta e meia ensina os truques de se fazer um bom cachorro quente para a neta.
“Além do capricho e dos ingredientes de qualidade, o meu segredo é a montagem do lanche”, ensina.
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