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Revolução de 1932 completa 85 anos e teve combatentes de nossa região


Luta contra ditadura de Getúlio Vargas e por uma Nova Constituição é relembrada com orgulho por famílias de ex-combatentes


No dia 9 de julho (domingo), a Revolução Constitucionalista de 1932 completa seus 85 anos. Os combates foram intensos na época e marcaram a luta do povo paulista contra o governo provisório de Getúlio Vargas por uma nova Constituição, onde o novo presidente fosse eleito pelo voto direto. Tudo começou com manifestações de rua, pedindo o fim da ditadura instituída pelo governo Vargas. Quando o conflito armado eclodiu, reuniu combatentes e voluntários de diversas localidades, principalmente da Região Metropolitana de Campinas (RMC).

A REVOLUÇÃO

O início de tudo foi em 1930, quando uma primeira Revolução ocorreu e depôs do cargo o então presidente Washington Luís, impedindo a posse de Júlio Prestes. Com o golpe de Estado ocorrido, o gaúcho Getúlio Vargas assume o governo e põe fim à famosa política do “café com leite” (instituído durante a República Velha, onde governantes paulistas e mineiros se sucediam na presidência do Brasil em regime de revezamento). A ascensão de Vargas ao poder desagradou as elites paulistas, que não aceitavam ver o estado considerado o mais rico do país sendo submisso a um governante de outro estado.

Insatisfeitos com o governo provisório de Vargas, os paulistas aguardavam a convocação de novas eleições. Porém, dois anos se passaram e essa providência não foi tomada, mantendo-se o governo provisório. Com isso, os fazendeiros paulistas, principais insatisfeitos com a era Vargas por terem perdido o poder em 1930, iniciaram uma forte oposição ao governo central, recebendo a adesão de universitários, comerciantes e liberalistas. Os paulistas, então, começaram a exigir do governo novas diretrizes: Elaboração de uma nova Constituição, convocação de novas eleições para presidente, saída do interventor pernambucano João Alberto para a entrada de um interventor paulista no Estado, e fim da forma autoritária com que Vargas conduzia a política, buscando então a democracia.

No entanto, Vargas não atendeu as reivindicações do povo paulista e em maio de 1932 as manifestações começaram. Em uma delas, ocorreu uma forte reação policial e quatro estudantes (Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade) morreram no confronto. As inicias de seus nomes (MMDC) deu nome ao movimento de oposição à ditadura, que começava a planejar a luta armada. Em 9 de julho, forças paulistas lideradas pelo General Isidoro Dias Lopes avançaram pelo estado e iniciaram a marcha para o Rio de Janeiro. Começava a Revolução Constitucionalista de 1932.

COMBATENTES REGIONAIS

Quando se iniciou a Revolução de 1932, muitos civis da nossa microrregião (Jaguariúna, Amparo, Pedreira, Artur Nogueira, Cosmópolis) participaram como combatentes e até mesmo enfermeiros. Desta região, apenas Holambra não teve guerrilheiros pois na época, ainda não existia.

Atualmente, conforme apurou um levantamento do site JC Holambra, não existem mais ex-combatentes vivos nas cidades citadas. O último, que residia em Jaguariúna, foi o senhor Alfredo de Souza, que faleceu há aproximadamente quatro anos, aos 98 anos de idade.

Em entrevista ao site do Jornal da Cidade, a fundadora do Décimo Núcleo de Correspondência “Trincheiras de Jaguariúna”, Maria Helena de Toledo Silveira Melo, nos contou sobre a oportunidade que teve de conversar com o veterano ex-combatente de 32, Alfredo de Souza (fotos abaixo), pouco antes de seu falecimento. Saudosista e orgulhoso de ter dado sua contribuição num episódio tão marcante para a história do povo paulista, ele relatou a experiência vivida durante os combates contra a tropas de Getúlio Vargas.

"O Sr. Alfredo demonstrou ser muito valente. Ele nos contou que quando foi aos combates não se alistou antes e sim apenas quando já estava em São Paulo. O que interessava a ele era defender o seu país e alcançar a liberdade. Ele nos disse que chegou a lutar com uma bala alojada em seu corpo até o fim da Revolução e que isso não o fez pensar em desistir", conta Maria Helena.

A vizinha Pedreira também possui resgates históricos importantes sobre a Revolução de 32. Devido à sua localização na Serra da Mantiqueira, a cidade foi um dos últimos locais onde os Soldados Constitucionalistas se estabeleceram e montaram suas trincheiras.

No Morro do Cristo, por exemplo, foram abertas trincheiras pelos soldados, entre eles os pedreirenses Arnaldo Rossi, Edu Rossi e Guilherme Filipini, que lutaram junto ao Batalhão 23 de Maio. Nesse morro, ainda é possível localizar valas das trincheiras e também um monumento em homenagem aos combatentes pedreirenses, em “Visita ao Morro do Cristo”.

Como estudiosa e profunda conhecedora do assunto, Maria Helena também retratou um pouco da vida dos ex-combatentes e de suas famílias, ressaltando as dificuldades por eles enfrentadas e a vontade de lutar pelo país.

"Quando se iniciaram os combates, muitos jovens de nossa região não se alistaram, apenas foram para o combate tomados por um imenso sentimento de civismo e vontade de lutar pela liberdade do país. Muitos passaram fome e frio. As famílias tentavam ao máximo auxiliá-los, enviando roupas e comida para as "Casas de Soldado", que eram locais mantidos por ricas senhoras em que os soldados poderiam se abrigar e retirar a comida e as roupas enviadas pelos parentes; era o local onde as famílias dos soldados também buscavam auxílio material e financeiro.

Os combatentes conviviam ainda com as dificuldades de não terem armamento suficiente para todos. Dessa forma, era necessário criar estratégias para enganar o inimigo. Uma delas, para os que não tinham armamento, era carregar consigo a "Metralhadora Paulista", que ficou conhecida como Matraca: Uma caixa de ressonância magnética que reproduzia o barulho dos disparos de uma metralhadora. Apesar das dificuldades, os soldados contavam com total da ajuda de suas famílias, que confeccionavam os uniformes e os acessórios necessários, pois não havia dinheiro para a compra. Com isso, os combatentes carregavam consigo um bravo sentimento de amor à pátria e imensa vontade de lutar contra a ditadura varguista."


Famosa Matraca, utilizada para enganar os inimigos por copiar o barulho de uma metralhadora.

Atualmente, algumas cidades de nossa região preservam monumentos em homenagem aos ex-combatentes. Amparo, Pedreira e Mogi-Mirim possuem acervos que prestam esta homenagem aos bravos soldados constitucionalistas de 1932. Um grupo de pessoas em conjunto com a Prefeitura de Jaguariúna está com um projeto, para a confecção de um monumento ainda não existente na cidade. Conforme Maria Helena Silveira Melo (foto abaixo), a Revolução de 32 foi de grande importância não só para São Paulo, mas também para o Brasil.

"O principal legado da Revolução de 32, além de uma nova Constituição e de obtermos a liberdade, uma das coisas mais importantes foi o sentimento que os combatentes deixaram como exemplo de amor à pátria e ao país, independente das dificuldades. Nós, que naquela época éramos crianças, fomos ensinados a ter este amor e conhecer nosso país. E eu, principalmente por ter um pai ex-combatente, que me ensinou tudo" , conclui Maria Helena.


Joaquim Norberto de Toledo Junior, pai de Maria Helena, foi um ex-combatente de 1932 e é o atual patrono do núcleo de correspondência de sua filha. Maria Helena concedeu uma biografia original de seu pai e sua história como Soldado Constitucionalista ao site do Jornal da Cidade, escrita e assinada por ela. Atualmente ela possui um blog de mesmo nome do núcleo e está a disposição para quem possua histórias e gostaria de compartilhar sobre este momento tão importante nas histórias paulista e brasileira.


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